5.2.14

os sonhos secos de dia 25




abril? 

abril que se instala simultaneamente no cerne das carnes de tantos circuitos imagéticos mais e menos mainstream ou radicalizados, mais e menos poderosamente politizados; o grande rasgão metafórico na tecitura da pobreza democrática que reveste o corpo histórico do nosso país, que contra toda a probabilidade e pessoa ressoa: "possível, possível outro poder, possível o contra-poder". mas não me sai da cabeça, é uma fixação mesmo, a frase do coronel galvão de melo: "a revolução não foi feita para prostitutas e homossexuais". e seria fácil falá-lo como artefacto arcaico de um complexo masculino-militar, mas como tratar isso como capricho se é esse mesmo complexo masculino-militar, o próprio poder pragmático de uma profissão patriarcal, que fez a revolução; são as suas espingardas a substância dos nossos poemas de abril, quando dentro delas largamos os cravos: o corpo de abril é a de um macho bélico e butch que contra-ejacula flores. as putas e os paneleiros que colham o cravo no colo da saia, silentes e longínquos; os silêncios de abril são os silêncios de sempre: servem para calar as pétalas do seu contra-poder. abril não pinta os lábios, não dá o cu, não tem cona. resta então inventar contra-história: parir a outra política para abril (pela ponta do pau contra-ejaculante, pela palavra concreta de uma puta), para potenciar outra poética: cantar tanto o cravo como a cona; escrever tanto a espingarda como o pau estranho. 

& acho que esse é um dos meus trabalhos.



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